É o fim?
O que dói é saber que não acaba. Não tem fim.
Entendo a grande festa para o fim de ano! Entendo o porquê de todo o
alvoroço com a possibilidade do fim do mundo. Lá no fundo é tudo o que
mais queríamos. Ah! como seria bom se realmente as coisas acabassem!
Pois o que nos incomoda é o fato de termos deixado muita coisa para
trás, e nenhuma delas ter passado.
A dor vem ao se constatar
que não acabou. Não acaba! Dor de remorso, de saudade, de desespero, de
vontade, de desilusão. Quantos relacionamentos dos quais nos afastamos,
terminados ou desistimos, mas que nunca acabaram? Todos deixaram suas
marcas, sensações, traumas, ou boas lembranças. Quantas pessoas
resolvemos deixar de lado, abrir mão, desistir: adiantou?
O que
dói é constatar que a distração não faz com que acabe. O copo de
bebida, a viagem dos sonhos, a casa nova ou o novo emprego só serviram
para embriagar. A embriaguez é uma das nossas tentativas prediletas para
esquecer, passar por cima, desconsiderar. Embriagamos com tantas
coisas: trabalho, viagem, bebidas, ocupação, folga, amante, festas,
filhos, igreja, sexo, dinheiro, diversões e distrações que nunca fizeram
nada acabar! Só geraram mal estar, remorso, ressaca. A embriagues, como
toda embriagues, no máximo distraí, pois no outro dia vem a constatação
de que nada acabou! Você tem se embriagado com o quê?
Dói
saber que muitos dos nossos esforços não resolvem os problemas. O aborto
não resolveu a gravidez ‘indesejada’, jamais se esquece aquela decisão.
O divórcio não findou o sofrimento no casamento, ainda se experimenta
suas ações e reações. A mentira convenceu a muitos, mas não permitiu a
nossa paz. O isolamento convenceu nossa mente de que realmente ‘ninguém é
confiável’, mas não acalentou o nosso coração. Não resolveu! Não
adiantou se afastar da família. Não resolveu fingir que não se importou.
Não resolveu enganar/ mentir/ vingar/ trair/abandonar/ terminar! Você
tem tentado resolver o quê?
Quem já passou pelo dolorido
momento de sepultar um ente querido entenderá o que estou falando. Não
acaba! No velório vem a constatação de que a morte não é o fim. Morre,
mas não se finda. O choro surge ao constatar que a história daquela
pessoa ainda está em você, mas não há oportunidade de desfrutar ou
reparar.
Ah como seria menos difícil e mais suportável se a
morte fosse sinônimo de “acabar”. Mas o que mais corta o nosso coração é
o fato de que a morte significa apenas uma separação, um afastamento,
um distanciamento. Aquilo não acaba. Carregamos a vida daquele ente
querido conosco e a carregamos em nós.
Esta é conseqüência do
pecado: a morte, a separação, o distanciamento que não permite acabar. É
o afastamento que não permite desfrutar. É o ter e não possuir. A
história é viva, mas não há como consertar. Desejamos tanto o fim, pois
muitas coisas já morreram em nossas vidas e constatamos a dor de ainda
ter e não poder desfrutar, de ainda sentir e não poder mudar.
Quantas vezes nutrimos a ilusão de que ‘lá no horizonte’ as coisas
seriam diferentes, quantas vezes desejamos abandonar ou esquecer o que
se passou. O salmista Davi expressou estes desejos no Salmo 55:6-8: “Ah!
Se eu tivesse asas como a pomba, voaria para um lugar de descanso!
Fugiria para bem longe e moraria no deserto. Bem depressa procuraria
achar um lugar seguro para me esconder da ventania e da tempestade.”
Não, este lugar não existe! Ir para o deserto não é uma opção! Não, o
mundo não vai acabar! A terra não vai acabar! Você não vai se acabar!
Este ano não vai acabar! Somos eternos, e eternamente seremos. Tudo que
você produziu, ou foi gerado em sua vida, será eterno. Tudo o que
plantou irá vivenciar!
O que nos resta é o enfrentamento. Esta é
a oportunidade: o enfrentamento segundo a transformação do entendimento
para encarar todas as nossas histórias e viver a vontade de Deus (Rm
12). Não há outra saída, a não ser a do posicionamento, da firmeza, do
seguir em frente. Não vai acabar, mas você poderá vencer!
E o
que dá esperança e força é saber que Deus renova. Faz novo! Retorna as
características que foram perdidas, as virtudes que se foram. E esta
certeza, e somente esta, é o que ainda nos manteve e sempre nos manterá
em pé: as misericórdias do nosso Deus que não acabam e são novas a cada
manhã (Lamentações 3.22-23).
E assim quero ser, como alguém que não acaba, mas que é novo a cada amanhecer.
Siga em frente, enfrentando o que nunca acabou...
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