28 de dezembro de 2012

É o fim?

O que dói é saber que não acaba. Não tem fim.
Entendo a grande festa para o fim de ano! Entendo o porquê de todo o alvoroço com a possibilidade do fim do mundo. Lá no fundo é tudo o que mais queríamos. Ah! como seria bom se realmente as coisas acabassem! Pois o que nos incomoda é o fato de termos deixado muita coisa para trás, e nenhuma delas ter passado.

A dor vem ao se constatar que não acabou. Não acaba! Dor de remorso, de saudade, de desespero, de vontade, de desilusão. Quantos relacionamentos dos quais nos afastamos, terminados ou desistimos, mas que nunca acabaram? Todos deixaram suas marcas, sensações, traumas, ou boas lembranças. Quantas pessoas resolvemos deixar de lado, abrir mão, desistir: adiantou?
O que dói é constatar que a distração não faz com que acabe. O copo de bebida, a viagem dos sonhos, a casa nova ou o novo emprego só serviram para embriagar. A embriaguez é uma das nossas tentativas prediletas para esquecer, passar por cima, desconsiderar. Embriagamos com tantas coisas: trabalho, viagem, bebidas, ocupação, folga, amante, festas, filhos, igreja, sexo, dinheiro, diversões e distrações que nunca fizeram nada acabar! Só geraram mal estar, remorso, ressaca. A embriagues, como toda embriagues, no máximo distraí, pois no outro dia vem a constatação de que nada acabou! Você tem se embriagado com o quê?

Dói saber que muitos dos nossos esforços não resolvem os problemas. O aborto não resolveu a gravidez ‘indesejada’, jamais se esquece aquela decisão. O divórcio não findou o sofrimento no casamento, ainda se experimenta suas ações e reações. A mentira convenceu a muitos, mas não permitiu a nossa paz. O isolamento convenceu nossa mente de que realmente ‘ninguém é confiável’, mas não acalentou o nosso coração. Não resolveu! Não adiantou se afastar da família. Não resolveu fingir que não se importou. Não resolveu enganar/ mentir/ vingar/ trair/abandonar/ terminar! Você tem tentado resolver o quê?

Quem já passou pelo dolorido momento de sepultar um ente querido entenderá o que estou falando. Não acaba! No velório vem a constatação de que a morte não é o fim. Morre, mas não se finda. O choro surge ao constatar que a história daquela pessoa ainda está em você, mas não há oportunidade de desfrutar ou reparar.

Ah como seria menos difícil e mais suportável se a morte fosse sinônimo de “acabar”. Mas o que mais corta o nosso coração é o fato de que a morte significa apenas uma separação, um afastamento, um distanciamento. Aquilo não acaba. Carregamos a vida daquele ente querido conosco e a carregamos em nós.

Esta é conseqüência do pecado: a morte, a separação, o distanciamento que não permite acabar. É o afastamento que não permite desfrutar. É o ter e não possuir. A história é viva, mas não há como consertar. Desejamos tanto o fim, pois muitas coisas já morreram em nossas vidas e constatamos a dor de ainda ter e não poder desfrutar, de ainda sentir e não poder mudar.

Quantas vezes nutrimos a ilusão de que ‘lá no horizonte’ as coisas seriam diferentes, quantas vezes desejamos abandonar ou esquecer o que se passou. O salmista Davi expressou estes desejos no Salmo 55:6-8: “Ah! Se eu tivesse asas como a pomba, voaria para um lugar de descanso! Fugiria para bem longe e moraria no deserto. Bem depressa procuraria achar um lugar seguro para me esconder da ventania e da tempestade.”

Não, este lugar não existe! Ir para o deserto não é uma opção! Não, o mundo não vai acabar! A terra não vai acabar! Você não vai se acabar! Este ano não vai acabar! Somos eternos, e eternamente seremos. Tudo que você produziu, ou foi gerado em sua vida, será eterno. Tudo o que plantou irá vivenciar!

O que nos resta é o enfrentamento. Esta é a oportunidade: o enfrentamento segundo a transformação do entendimento para encarar todas as nossas histórias e viver a vontade de Deus (Rm 12). Não há outra saída, a não ser a do posicionamento, da firmeza, do seguir em frente. Não vai acabar, mas você poderá vencer!

E o que dá esperança e força é saber que Deus renova. Faz novo! Retorna as características que foram perdidas, as virtudes que se foram. E esta certeza, e somente esta, é o que ainda nos manteve e sempre nos manterá em pé: as misericórdias do nosso Deus que não acabam e são novas a cada manhã (Lamentações 3.22-23).

E assim quero ser, como alguém que não acaba, mas que é novo a cada amanhecer.

Siga em frente, enfrentando o que nunca acabou...

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